ORIKI 3 … continuação…

   Assim nasceu o maior amor do mundo.   Pensava nela acordado e dormindo sonhava com a princesa Ainà. Nunca mais pode ve-la. Voltara para o Niger, naquele mesmo dia, talvez.
   Procurou desenhar a imagem querida no pedaço de madeira que havia sobrado do cofre. Trabalhou muito tempo sem parar , mas não ficou satisfeito.
   Faltava a graça das curvas, faltava o balanço do navio, a imponencia da quilha, o riso dos olhos. Desgostoso , abandonou o trabalho e chorou sem saber por que.
   Naquela noite sonhou que estava chegando ao palacio do Niger, vestido de panos ricos, imponente , como  filho de Obá. Suas marcas tribais tinham sido pintadas a ouro e sua carapinha espargida de pó dourado. Dos labios , pendia uma argola de ouro e as pulseiras eram tão grossas e pesadas que ele não podia mover os braços.
   Acordou sentindo caimbra. Ficou sem poder dormir até a madrugada, procurando decifrar o sonho. Resolveu então ir para o Niger.
   Quando o dia clareou . vendeu o que possuia, amarrou o dinheiro num lenço e o cofre no pano azul. Trocou uns ibejes de madeira por contas de Bida com mercadores de Nupê que seguiam a Terra de Tapa. Sabemdo que eles regressavam naquele dia, incorporou-se à caravana e com  ela seguiu até as margens do Niger,
   A historia desssa viagem daria em canoas e rios, em estradas, em matas, em povo peregrinando, em cidades ficando para trás. Basta dizer, para encurtar o assunto, que ate fome Badê passou. Nas margens do  Niger agradeceu a companhia dos mercadores, fez sacrificio para Oiá, a Iansã, dona daquelas aguas, e arranjou passagem numa barca de carga. Trez dias depois, mais descasasado e de roupa limpa, desceu na entrada do palácio do Rei do Niger.
  No grande portão aentrada os tocadores de atabaques se voltaram para ver quem era, mas não tocaram saudando o visitante. Sua figura modesta dispensava recepção honrosa,
   Badê cumprimentou respeitosamente o guarda do portão dizendo : – Ekuxê ! – Que a morte nao te surpreenda enquanro estas trabalhando !.
   Com toda arrôgancia o guarda perguntou que procurava naquele lugar de  rico , o estrangeiro pobre.
   Badê explicou que estava chegando da beira do mar e que viera até o palacio oferecer-se como carpinteiro. Sabia fazer moveis esculpidos, colunas e figuras de madeira talhada. Citou os Obás para os quais trabalhara repetindo a palavras de elogio que merecera,
   Ouvindo o longo arrazado o guarda Kayodê abrandou-se. Ele era macaco de um Taiô defunto, A escultura de Taiô estava bichada e Kayodê precisava urgentemente de outra nova onde a alma do irmão pudesse morar tranquilamente. Eis porque abriu o rosto para o estrangeiro e perguntou-lhe se já estava hospedado em algum lugar. Diante  da resposta egativa ofereceu-lhe sua casa, No dia seguinte falaria com o Chefe dos Guardas sobre o trabalho pedido.
   Kayodê morava sozinho numa choça ao lado do portão do palacio. Não que fosse solteiro. A mulher o abandonara quando ele não pudera pagar a ultima prestação do dinheiro que ficara devendo ao sogro, pela sua compra, desde o casamento. Ela voltara para à aldeia levando o filho nos braços. Kayodê estava muito envergonhado. Os guardas e os tocadoresdo Palacio, quase todos solteiros porque ainda não tinham podido ajuntar dinheiro para comprar mulher, viviam zombando dele. Procurava não gastar, comerciava e não havia meios de ajuntara quantia de que precisava. Atribuia a infelicidade a um castido do Ibeje seu irmão. na certa por causa da imagem estragada. Tudo isso foi contado a Badê enquanto o  levava para casa . O carpinteiro se ofereceu para fazer imediatamente  Ibeje e o coração de Kayodê se alegrou.
   Os dois cortaram sapé no mato, e varetas. Antes do escurecerhaviam levantado uma coberta para Badê trabalhar. No fundo do Palacio encontraram um bom pedaço de madeira que servia para esculpir.
   No dia seguint o Ibeje ficou pronto. Era o mais lindo que o guarda jamais vira. Entusiasmado correu a mostra-lo ao Chefe da Guarda. Este levou até o Obá. O Rei do Niger dignou-se a olhar o trabalho e pareceu te-loaprovado embora de seus labios não saísseo menor louvor.
Em vez de falar, mandou por meio de gestos que o servo, seu interprete levasse madeira para o carapina fazer um trono digno do Obá do Niger. Franzindo o rosto em caras do mais terrivél nojo mostrava seu trono velho, tão pobre de adornos, batia nopeito para explicar que era indigno de tão importante pessoa. O interprete cumpriu com rapidez as ordens recebidas.
 
… continua …

Sobre Umberto Seraphini

Caminho como um lobo solitário, se me dou, é porque encontro em ti um lobo igual.
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